(A vontade de querer fazer estes trilhos era muita, mas quem é quem me ia acompanhar nesta aventura? A única pessoa que partilhava a mesma vontade era a Diana, mas o desejo dela era sair de Santiago até Finisterra, mas eu queria fazê-lo do Porto. Seriam mais de 200 quilómetros e seria o suficiente para obter a
Compostelana de bicicleta. Mas ao receber esta última
Compostelana fiquei um pouco desiludido, porque é basicamente igual à que tenho em casa, a única diferença é que muda a data. Na minha opinião devia haver
Compostelanas diferentes, deviam mencionar de onde se começava e o seu meio de locomoção e mantinham a sua originalidade de séculos.)
Voltando ao caminho, o material estava pronto e só nos faltava vestir e comer algo. Pela primeira vez em todo o caminho, não tivemos de sair para tomar o pequeno-almoço, tínhamos-nos adiantado no dia anterior.
Ao sair do estábulo, senti aquele cheirinho tão desagradável a estrume de vaca, é do piorio. Fomos ao albergue alternativo beber um cafezinho, era dos poucos locais que àquela hora estava aberto. Despedidas e desejar um bom caminho aos demais caminheiros presentes e prontos para mais uma etapa, talvez a ultima como nós, ou não.
Partimos em direcção às setas, mas havia um pequeno problema é que só o Beto tinha luz à frente e então tivemos de nos colar a uns "
camones" que já tinham iniciado o caminho. Não sei porquê mas eles sentiram que nós os estávamos a "seguir" e logo nos despacharam para a frente. Andámos um pouco às apalpadelas mas logo nos habituamos à escuridão e com um pouco de ajuda do luar conseguimos ver as setas.
Àquela hora sentia-se um pouco de frio, mas nada como aquecer com uma subida às ventoinhas eólicas. Na descida não conseguimos usufruir como deve de ser devido à falta de luz, mas, vá lá, ninguém caiu.
Parámos um pouco para a foto numa pequena ponte e continuamos o caminho. Passado uns minutos chegámos ao famoso
Marco duplo. Duplo porquê? Porque tem duas direcções, se se for pela esquerda, vai-se para
Finisterra por
Cee e se se virar à direita, vai-se para Múxia. Foi o que fizemos, optámos pela direita. Agora sim, o caminho ganhou um pouco mais de interesse para mim (digo isto porque já conhecia o caminho desde Valença do Minho até este ponto de viragem).
Apanhámos trilhos para diversos gostos; com areia, saibro e imensa gravilha. Tanto andámos por estrada como por trilhos. Subimos, descemos e, no final, chegámos a uma placa que nos dava a boa notícia de estarmos perto do primeiro objectivo,
Múxia.
Nada melhor que uma boa descida e finalmente a primeira visão que temos ao sair do mato,
Múxia. Alivio de termos chegado e mais uma sessão fotográfica aos nossos modelos, para não variar as nossas bikes, que nos acompanharam estes quilómetros todos.
Fomos à procura do albergue do peregrino para recebermos a tão desejada
Muxiana, mas, ao chegar ao albergue, deparámos-nos com uma péssima surpresa: estava fechado e só abria às 13h30 e, como ainda eram 11h20, ligámos aos números afixados na entrada. Contactamos com os responsáveis do albergue e disseram-nos que a única alternativa era esperar. Bem, ficar duas horas à espera não fazia parte dos planos e decidimos ir para
Finisterra, talvez com alguma sorte ainda consigamos a
Muxiana.
Digo-vos uma coisa, o caminho em termos de sinalética estava um pouco confuso ao inicio, existem os marcos com a vieira amarela, mas estas apontam para o chão. É que este caminho faz-se nas duas direcções, Múxia-Finisterra e vice-versa, e o que nos safou foram as setas amarelas, caso contrário tínhamos de nos auxiliar do GPS, mas foram poucas as ocasiões, felizmente.
Numa das diversas paragens efectuadas, o Beto pediu a uma senhora se podia dar-nos alguma água e perguntámos se estaríamos longe de
Finisterra e ela respondeu que estávamos em
Lires a meio do caminho.
Ao atravessar
Lires, a paisagem nem vos digo nada, era de cortar a respiração, junto à estrada reparamos numa praia que nos fez lembrar aquelas praias paradisíacas.
Esta última etapa deve ter sido a mais longa. Finalmente
Finisterra, nem sequer parámos para descansar, tínhamos o tempo quase todo cronometrado e fomos de imediato ao Albergue Municipal buscar a
Finisterrana. Houve logo uma serie de perguntas em relação ao regresso a Santiago.
O nosso objectivo já tinha sido alcançado, mas ainda faltava ir ao Farol e à Bota de Bronze, situados na costa da morte e foi o que fizemos. Já se notava o cansaço e custava imenso subir, apesar de ser a última. Custou mas valeu o esforço, ao chegar fomos imediatamente ao m
arco do Quilómetro Zero. Fomos todos juntos para o local onde se encontra a Bota e apreciámos a paisagem espectacular e finalmente a foto de família. Durante estes dias, estes três companheiros do pedal foram meus irmãos de viagem, sem esquecer a Diana. Partilhámos dor e muito cansaço, aturamo-nos sem haver uma única discussão e bons momentos de distracção.
Ao regressar ainda tivemos tempo de tirar mais umas fotos junto à
estátua do Peregrino. Ao ir embora, nem o vento nos deixou desfrutar da última descida, era tanto que nem sequer nos atrevíamos de pedalar. Mal que chegamos à Vila, fixámo-nos na paragem e esperámos impacientes pelo autocarro que nos levaria de volta a Santiago. Foram três horas para fazer mais ou menos cem quilómetros, mas deu para descansar.
(Continua)